Antidepressivos e ansiolíticos ultrapassa 42 milhões de caixas e coloca o país em posição de liderança mundial neste mercado, que não para de crescer.. Só no ano passado movimentou R$ 1,85 bilhão, junto com os estabilizadores de humor. A alta é de 16,29% em relação a 2011, quando movimentou R$ 1,59 bilhão. É como se um a cada cinco brasileiros tomasse esses medicamentos.


Os dados fazem parte de levantamento feito para o Estado de Minas pelo IMS Health, instituto de pesquisa que faz auditoria para o mercado de medicamentos. Foram 42,33 milhões de caixas vendidas em 2012 dos remédios que ajudam a amenizar desde depressão até a insônia de quem não consegue relaxar, tamanho o estresse do dia - alta de 8,72% em relação a 2011, quando foram vendidas 38,94 milhões de caixas. É como se um a cada cinco brasileiros consumisse uma caixa de antidepressivo ou estabilizador de humor por ano.

A realidade acende o alerta na classe médica, que tenta encontrar justificativas para os dados que vão desde falta de tolerância das pessoas em lidar com as frustrações até a prescrição equivocada dos médicos.

O Ritrovil, cujo princípio ativo é o clonazepam, prescrito a quem sofre de ansiedade, insônia e depressão, é a tarja preta mais consumida no Brasil, à frente até mesmo de pílulas anticoncepcionais e analgésicos. Depois de investir bilhões de dólares, a indústria farmacêutica, para muitos, desvendou a química da felicidade.

No país, o faturamento com a comercialização desses medicamentos cresceu mais de 200% nos últimos seis anos. Os números são favoráveis para a indústria, entretanto desafiam especialistas em saúde. Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), só em 2011 foram 18,45 milhões de caixas com 30 comprimidos (553 milhões de pílulas) vendidas nas farmácias particulares no Brasil, um aumento de 36% em relação a 2010. Cada uma pode custar até R$ 10.

Perigos

Por se tratar de medicação controlada, só é adquirida com receita. "Os dados da Sinfarmig se referem aos remédios distribuídos pelo SUS, não contemplam as compras feitas em farmácias privadas. Por isso, a situação é perigosa. Trata-se de um consumo expressivo e um grave problema de saúde pública que merece a atenção das autoridades", afirma o diretor do sindicato e vice-presidente da Fenafar, Rilke Novato Públio, acrescentando que as doses causam dependência e efeitos colaterais, como sonolência, dificuldades no processo de aprendizagem, perda da memória e até parada cardíaca.

"Tenho depressão e não tenho preconceito com medicamentos. Gosto mais de mim com o remédio. Aprendi que, com ele, não deixo de ser eu mesma. Passo a ser quem eu sou." Assim, Letícia, psicóloga e professora, de 34 anos, define sua relação com os antidepressivos.

Levantamento inédito do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais (Sinfarmig) mostra que o uso de Rivotril explode na rede pública de 10 cidades avaliadas, que consumiram juntas mais de 15 milhões de comprimidos distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2012. Chama a atenção o consumo em cidades pequenas, como Bonfim, na Grande BH, onde só no ano passado foram distribuídos 70 mil comprimidos para os pouco mais de 6 mil moradores, uma média de 10 para cada.

"Se me tirarem essa droga, não dormiria nunca mais. Sou viciada", avisa Luciana Vieira, de 34 anos, moradora de Bonfim, na Grande BH. Desde 2007, quando apresentou sintomas de depressão, ela toma o remédio. "Não conseguia dormir, ficava ansiosa e muito triste. Desde então, tomo dois comprimidos toda noite", conta. Ela diz que há algum tempo a medicação passou a não fazer efeito e o médico optou por outros antidepressivos associados ao Rivotril. "Aqui na cidade todos tomam. Não temos muito o que fazer, não há lazer para nós", reclama Luciana, preocupada com efeitos da medicação. "Outro dia, não sentia mais os meus braços."

Nelson Parreiras Lara, de 57, também morador de Bonfim, conta que há seis anos toma a medicação e tem aumentado o uso. Hoje toma quatro por dia. Ele mostra os pés inchados, que, segundo ele, são resultado dos comprimidos.

Preocupada com a realidade, a recém-empossada secretária municipal de Saúde, Rose Marie Marques, diz que vai estudar o assunto a fundo. "A quantidade de consultas para a psiquiatria também é alta. É curioso tantas pessoas usarem uma medição forte como essa", desconfia.

Para o vice-presidente da Fenafar, Rilke Novato, "o consumo de antidepressivo tanto na rede privada quanto na pública é em função da irracionalidade da prescrição. Além disso, a investida da indústria farmacêutica continua acirrada".

Fonte: da redação com informações do Estado de Minas

Assessoria de Comunicação

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