Antigas civilizações, como as do Oriente Médio, Suméria, Egito e Assíria, deixaram mencionados em textos o uso da casca do salgueiro ou chorão como diminuidores das dores e da febre. Os nativos americanos usavam, também essa casca para dores de cabeça, febre, reumatismo e tremores. Hipócrates, médico grego e pai da medicina científica, escreveu que o chá do pó da casca dessa planta podia ser usada para aliviar dores e diminuir a febre. O reverendo Edmundo Stone de Chipping Norton do condado de Oxford, Reino Unido, em 1763, redescobriu as propriedades antipiréticas da casca do salgueiro, cujo nome científico é Salix Alba, e as descreveu de forma científica. Foi em 1828 que o farmacêutico francês Henri Leroux e o químico italiano Raffaele Piria isolaram de forma cristalina o principio ativo da casca do salgueiro e que chamaram de salicina ou ácido salicílico. Em 1859 o químico alemão Herman Kolbe descobriu a estrutura química desse ácido e encontrou a forma de reconstruí-lo artificialmente em laboratório. Em 1874, a Companhia Heyden começou a produzir o ácido salicílico como um agente para aliviar a dor. A droga funcionava, mas tinha efeitos colaterais desagradáveis; ela irritava o estômago e muitas pessoas eram incapazes de tomá-la. Existem controvérsias com relação a quem foi o inventor do método que criou o ácido acetilsalicílico. De acordo com o Laboratório Bayer, foi Felix Hoffmann em 1897, mas, de acordo com vários peritos, o inventor foi Arthur Eichengrun. Salvo melhor juízo, a tendência maior fica para o lado de Felix Hoffmann, haja vista, ele já ter realizado trabalhos onde adicionava o grupo acetil (CH3CO) a drogas na tentativa de aumentar sua potência e diminuir a sua toxicidade. Ele havia feito esses trabalhos porque seu pai sofria com uma artrite severa. Como ele trabalhava na Bayer, uma companhia química e farmacêutica alemã, seu trabalho consistia em modificar compostos conhecidos na esperança de que essas mutações gerassem novas drogas ainda mais potentes e com efeitos colaterais indesejáveis diminuídos. Ele adicionou o grupo acetil ao ácido salicílico e obteve o ácido acetilsalicílico.

Algumas maneiras de se escrever a fórmula do Ácido Acetilsalicílico

O diretor do laboratório farmacêutico Bayer, Heinrich Dresser, testou a substância em si próprio, realizou uma série de experiências com animais e, posteriormente, um conjunto de testes clínicos e concluiu que esse composto era um analgésico altamente efetivo e apresentava efeitos colaterais amplamente reduzidos. A descoberta de Hoffmann ficou conhecida mundialmente, mas a patente européia da Bayer com o nome aspirina – de acetil, spir do nome científico da planta Spiraea ulmaria e in que era um sufixo utilizado na época, foi rejeitado. Um químico Frances chamado Charles Gerhardt que tinha feito uma versão impura do ácido acetilsalicílico, conseguiu a patente americana com o nome de Ácido acetilsalicílico e passou a divulgá-lo em todo o mundo.

Síntese do ácido acetilsalicílico

O processo de síntese consiste em tratar o ácido salicílico com anidrido acético em presença de um pouco de ácido sulfúrico, que atua como catalisador. É um processo simples, mas o processo de recristalização requer muito cuidado, pois, quase sempre os cristais ficam, ainda, com muita impureza(acidez) e pode provocar mal estar. Salvo melhor juízo, os comprimidos de AAS (ácidoacetilsalicílico) mais puros são os fabricados pela indústria alemã e americana.

Durante muitos anos, ficou desconhecido o mecanismo de ação da aspirina. Só em 1982 é que John Vane ganhou o premio Nobel por demonstrar que a aspirina bloqueia a ação do COX-2, uma enzima que, induzida localmente por citocinas produzidas pelos leucócitos em resposta a danos ou invasão microbiana, ajuda na formação da prostaglandina, um hormônio que ativa a inflamação no local do ferimento. Como o “inchaço” geralmente provoca dor, remover a inflamação reduz a dor. Devido a essa ação, agora, sabemos que bloquear essa enzima pode ajudar as pessoas com diversos tipos de câncer e pode, também reduzir alguns riscos das pessoas terem um ataque cardíaco.

Em estudos de prevenção primária, a dose de AAS usada variou de 75 a 500 mg uma vez ao dia. Não há estudo de prevenção primária que compare várias doses diferentes. Dose baixa de AAS como 100 a 75 mg ao dia tem sido sugerida como mais efetiva que altas doses, pois inibe menos a prostaciclina e causa menos toxicidade gastrointestinal. Estudos totalizando 3.570 pacientes em uso de AAS compararam doses menores que 75mg/dia ou maiores que 75mg/ dia; não houve diferença significante entre os diferentes regimes. Contudo, doses menores que 75 mg/dia não são disponíveis comercialmente, sendo pouco utilizadas.

O maior risco da terapia com AAS é a lesão da mucosa gástrica e hemorragia digestiva alta. AAS aumenta o risco relativo de sangramento gastrointestinal. As apresentações entéricas não parecem diminuir esse risco. É importante reconhecer que não há um aumento no risco de sangramento retiniano e vítreo com terapia com AAS. Devemos lembrar que pacientes com alergia ao AAS, tendência a sangramentos, em terapia anticoagulante, com sangramento gastrointestinal recente e/ou com doença hepática ativa não são bons candidatos para o uso do AAS. Além disso, pacientes com menos de 21 anos têm risco maior para síndrome de Reye.

Devido à sua ação inibidora das prostaglandinas, o AAS tem muitas indicações, como sejam:

Síndrome coroniana aguda;

Infarto agudo do miocárdio;

Prevenção do tromboembolismo cerebral ou ataques isquêmicos transitórios;

Trombose cerebral;

Febre (contra-indicado para crianças, especialmente, em quadros virais pelo risco de Síndrome de Reye);

Dor de cabeça;

Prevenção primária ou secundária do infarto miocárdico, incluindo prevenção pós angioplastia;

Osteoartrite;

Dor;

Tratamento de artrite reumatóide, artrite juvenil, osteoartrite ou artrose;

Febre reumática;

Tratamento da doença de Kauasaki;

Dentre outras.

Devido a tudo isso, a aspirina tornou-se um medicamento bastante popular sendo ingeridos, aproximadamente, oito bilhões de comprimidos por ano.

A descoberta da síntese do Ácido acetilsalicílico completará, em 2011, 102 anos.

BIBLIOGRAFIA

  • Química Orgânica – Armando Novelli
  • Organic Chemistry – Morrisson and Boyd
  • Quimica Organica – Moacir Cinelli
  • Introduction to Organic Chemistry – Streitweiser Jr and H. Heathcock
  • Pequena História da Ciência – William Dampier
  • Causalidades e Acidentalidades das Descobertas Científicas – Renê Taton
  • Ciência – Peter Moore

Autor da Notícia:

Farm.Wilmar Nunes de Brito.
Ex-Professor Titular do Departamento de Química do CCEN da UFPB.
Pós-graduado em Mecanismos de Reações em Química Orgânica, pela USP.
Atualmente, Responsável Técnico da Farmácia Básica do Município de Belém-PB